Com uma abordagem multidisciplinar que combina paisagismo e ecologia, estética, design e estudos cromáticos, arquitetura, política e um trabalho etnográfico baseado em caminhadas e encontros fortuitos, Gareth Doherty analisa neste livro a presença e o imaginário da cor verde no Reino do Bahrein, país insular do Golfo Pérsico onde ela é historicamente associada à prosperidade e ao bem-estar em contraste com o deserto árido e hostil que domina a paisagem.
A análise reflexiva e multidisciplinar deste contexto exótico - tanto para o autor quanto para os leitores brasileiros - torna a leitura atraente e esclarecedora, e sugere uma série de contrapontos para o pensamento sobre os mesmos temas, paradoxos e cruzamentos disciplinares em nosso país.
Um dos paradoxos que está no cerne do livro é que, embora o verde da natureza seja frequentemente celebrado nas cidades como um contraponto a ambientes urbanos cinzentos, ele nem sempre é benéfico do ponto de vista ambiental, em especial em lugares áridos como o Bahrein. O apetite local pelo verde é ilustrativo de uma obsessão pelo verde urbano que permeia as cidades em todo o mundo e que se encontra em um nível extremo nesse lugar em particular, em que a vegetação está no centro das disputas políticas pela terra.
O autor argumenta, ainda, que os conceitos de cor e objeto se definem mutuamente e, assim, uma discussão sobre o verde se torna uma discussão sobre a criação de espaços e de lugares. No Bahrein, o verde representa uma infinidade de valores humanos implícitos e existe em tensão dialética com outras cores e matizes cultural e ambientalmente significativos. Por exemplo, na relação entre verde e vermelho, sendo a primeira a cor do islã, mais relacionada aos xiitas, e a segunda a cor nacional dos bahreinitas, o que leva as duas a serem altamente politizadas e, de certa forma, contrapostas