Richard Neutra e o Brasil - Impresso

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    O novo livro da coleção, de autoria de Fernanda Critelli, se detém sobre algumas obras e ideias de Richard Joseph Neutra (1892-1970), arquiteto austríaco radicado nos Estados Unidos, deixou, ao longo de sua vida profissional, importante legado que se revela tanto pelas inúmeras obras construídas quanto pela contribuição acadêmica. A autora se debruça em especial sobre a presença do arquiteto no Brasil, onde ele se apresenta no duplo papel de agente cultural e representante diplomático, e a importância da interlocução em sua obra posterior.

    Elemento importante para a aproximação de Neutra ao nosso país é seu grande interesse em compreender as condições climáticas e sociais dos locais onde atuava, tendo sido crucial sua presença em Porto Rico, país com meio ambiente similar à algumas regiões do Brasil e onde teve a oportunidade, na condição de consultor do Committee on Design of Public Works, nomeado pelo Departamento de Estado norte-americano, de ser o responsável pela produção de obras variadas – como escolas, moradias e hospitais – adaptadas às condições ambientais locais. A experiência porto-riquenha é registrada no livro Arquitetura social em países de clima quente – edição bilíngue (português e inglês) da Editora Gerth Todtman, publicada em São Paulo no ano de 1948.

    Muito se sabe sobre a importância de suas obras, mas pouco se fala sobre a estreita relação entre Neutra e o Brasil. Seu livro, que encantou toda uma geração de arquitetos brasileiros, é apenas o elemento mais visível e conhecido dentre inúmeros outros que atestam a profunda relação estabelecida pelo arquiteto austríaco com o universo cultural local. O livro Richard Neutra e o Brasil, originado por extenso e aprofundado estudo realizado durante iniciação científica, mestrado e doutorado, mapeia esta interlocução através de pesquisa bibliográfica e de fontes primárias.

    O levantamento histórico se deu no Brasil, em acervos institucionais (principalmente do Masp) e familiares (em especial, de Gregori Warchavchik e Henrique Mindlin), e nos Estados Unidos, no acervo Llilas Benson (Coleções e Estudos Latino Americanos e de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Austin) e na Biblioteca de Pesquisa Charles E. Young da Universidade da Califórnia em Los Angeles. Esta última guarda documentos originais – desenhos, fotos e projetos – de Richard Neutra. Critelli também visitou obras do arquiteto nos Estados Unidos e Cuba, entrevistou os dois filhos, Raymond e Dion Neutra, e conversou com Thomas Hines, importante estudioso de sua obra.

    Os laços estreitos estabelecidos por Richard Neutra com o Brasil e os brasileiros, até então entendidos pelos estudiosos como de mão única, ganham da autora uma interpretação mais rica, onde a interlocução alimenta os dois polos da relação. O estranhamento presente em análises de alguns críticos e historiadores sobre sua obra posterior às conexões latino-americanas – algumas vezes enxergando certo empobrecimento nos projetos do arquiteto –, Fernanda Critelli enxerga vasos comunicantes onde soluções técnicas e plásticas da arquitetura moderna brasileira irrigam pensamento e obra do arquiteto.

    Tendo como pano de fundo a cena política-diplomática mundial onde os Estados Unidos busca sedimentar seu papel de potência dominante no Ocidente, o livro Richard Neutra e o Brasil persegue não só a trajetória do diplomata a serviço dos Estados Unidos em sua missão brasileira (mensageiro da “boa vontade” norte-americana), mas também do arquiteto, que trava relações fraternas com significativos personagens do meio arquitetônico e cultural local, como Henrique Mindlin, Eduardo Kneese de Mello, Marcello Fragelli, Vilanova Artigas, Gregori Warchavchik, Miguel Forte, Pietro Maria Bardi, Roberto Burle Marx, Lucjan Korngold e Sérgio Bernardes. De forma genuína, Richard Neutra se interessa por nosso país, por sua cultura e, em especial, por sua arquitetura, pela qual se deixa conscientemente influenciar.

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