A infraestrutura da mina: o que levar em consideração?

A viabilidade de um empreendimento não se prende apenas à existência de uma reserva mineral. É preciso considerar a sua localização em relação aos consumidores do bem que ela irá gerar e a situação dos fornecedores de insumos necessários à geração desse bem, ou seja, a infraestrutura completa da mina.

Não se pode dizer que existe uma jazida se o preço de venda do seu produto não for competitivo. Essa competitividade é fortemente dependente das distâncias de transporte envolvidas, seja para a entrada de insumos, seja para a saída do produto final conforme as especificações do mercado consumidor.

Foto da infraestrutura de uma mina a céu aberto em obras, com máquinas e equipamentos movendo a terra.

Obras em mina a céu aberto (Fonte: Pixabay)

Assim, uma análise criteriosa da rede viária da região da jazida, bem como da conexão dessa rede com a rede viária nacional e portuária (se for o caso), apresenta-se como um dos condicionantes da viabilidade do projeto. Essa análise deve ser feita para estimar custos de transporte de insumos e produtos, de modo a permitir o cálculo do custo do produto no local em que ele será consumido ou entregue para embarque ou venda.

“Outros dois fatores sempre muito importantes na composição do custo final do produto se referem à disponibilidade local de energia e água a serem consumidas na mineração. Considerando a crescente tendência mundial de privilegiar o uso de energias limpas, sempre que possível, deve-se dar prioridade a projetos que maximizem o uso da energia elétrica ou outras fontes alternativas”, explica o Prof. Adilson Curi no livro Minas a céu aberto.

O destacado potencial hidrelétrico brasileiro, por exemplo, reforça o uso dessa alternativa energética, juntamente com o uso do álcool combustível, em detrimento de outras alternativas energéticas consideradas limpas, como energia eólica e energia solar, as quais ainda não estão bem consolidadas. Entretanto, a opção por uma dada forma de energia estará sempre condicionada às peculiaridades do bem mineral em lavra, podendo-se usar a energia do petróleo, desde que os resultados econômicos o justifiquem.

O mais importante é que se estabeleça uma estratégia racional de uso das diversas energias disponíveis, com o intuito de prevenir descontinuidades no fornecimento de energia. Quanto ao abastecimento de água, a sua importância se estabelece pelo uso nos diversos processos mineiros, principalmente nas operações de tratamento de minérios.

Diferentemente da energia, que apresenta formas alternativas de uso, a água é insubstituível, tornando-se, pois, uma condicionante imprescindível em termos de viabilidade de qualquer projeto. Assim, as disponibilidades locais em termos de energia e água devem ser cuidadosamente analisadas pela importância que assumem na constituição do custo de mineração.

Foto de uma jazida de minérios de ferro, com um trator passando em uma estradinha de terra à esquerda.

Jazidas de minérios de ferro (Divulgação: Vale)

O porte do empreendimento na mina irá determinar a natureza e o tamanho da infraestrutura necessária para suportá-lo

Quando a jazida estiver localizada em região desprovida de infraestrutura adequada, este fato deve ser cuidadosamente analisado e quantificado, por ser uma parcela muitas vezes importante do investimento inicial. Em termos sociais, um dos objetivos de um empreendimento mineiro é levar o progresso à região de sua implantação, com o máximo aproveitamento da mão de obra local, para elevação do padrão de vida dos habitantes da área de influência do projeto.

“Os mineiros e suas famílias precisam de condições adequadas de subsistência, para sua fixação no local de trabalho. É necessário que se tenha moradias, escolas, hospitais, centros de abastecimento de alimentos, clubes recreativos, transportes, enfim, toda uma infraestrutura capaz de propiciar um padrão de vida adequado”, pondera o Prof. Adilson Curi.

Mão de obra local

Deve-se sempre considerar a hipótese de aproveitamento máximo da mão de obra local. Desse modo, evidencia-se a necessidade de aproveitar as potencialidades da região e prover meios para adequá-la à utilização nas atividades mineiras. As consequências dessa política levam à demanda de criar cursos de treinamento específicos, com a intensidade e a antecedência necessárias à implantação do empreendimento segundo as técnicas e prazos previstos; além disso, o grau de complexidade dos equipamentos e técnicas mineiras deve ser compatível com a capacidade da mão de obra prevista para a operação.


Para saber mais

Em Lavra de minas, o Prof. Adilson Curi (UFOP) apresenta de maneira didática os fundamentos das lavras de minas a céu aberto e subterrâneas, compreendendo os conceitos básicos e a aplicação de novas tecnologias nas operações de lavra.

Capa de Lavra de Minas.