Argilas vermelhas sob a extensa Avenida Paulista

Em seu livro, Manuel de Matos Fernandes analisa esse perfil de solo brasileiro que se encontra sob a famosa avenida de São Paulo

Foto do Museu de Arte de São Paulo, na Avenida Paulista, sem carros na rua. Embaixo do asfalto da avenida, encontram-se argilas vermelhas como perfil de solo.

Quem vê a Paulista hoje não imagina que por baixo dela existem camadas de argilas vermelhas (Foto: divulgação)

Você sabia que a cidade de São Paulo está construída sobre uma bacia sedimentar formada na Era Terciária (Períodos Paleógeno e Neógeno)? Pois é, a bacia em questão é de origem fluviolacustre, e apresenta solos extremamente variados, com um embasamento rochoso composto de rochas gnáissicas e graníticas.

Nas zonas mais altas da cidade, os solos sedimentares ficaram sujeitos a um intenso processo de intemperismo. Nesses locais, os solos mais superficiais que têm natureza argilosa sofreram laterização, o que deu origem a argilas vermelhas por via da concentração de óxidos de ferro.

Esses solos podem, por exemplo, ser encontrados na Avenida Paulista. Trata-se de solos não saturados com uma importante fração argilosa.

“A primeira camada, devido a mais intensa laterização, apresenta uma macroestrutura muito porosa. O teor de umidade está sensivelmente abaixo do limite de plasticidade, o que corresponde a um índice de consistência superior a 1,0. Num solo argiloso “clássico”, saturado, isso corresponderia a uma consistência relativamente elevada”, explica o Professor Manuel Fernandes, doutor em Engenharia Civil pela FEUP.

Caráter colapsível

A argila vermelha porosa exibe elevada compressibilidade quando carregada à superfície, devido ao elevado índice de vazios conferido pelo intemperismo.

Esse solo tem caráter colapsível, podendo exibir igualmente grandes deformações induzidas por um aumento brusco do teor de umidade, por exemplo, associado a uma excepcional subida do nível freático, infiltração de água da chuva, ou até a ruptura de adutoras.

“Abaixo da camada de argila porosa encontra-se a camada de argila de consistência rija. Essa camada apresenta granulometria e limites de Atterberg (métodos de avaliação da natureza) parecidos com a camada superior, sendo o contraste em termos de consistência explicado pelo menor índice de vazios. O grau de saturação é também mais elevado (assim como o peso específico) em virtude da maior proximidade em relação ao nível freático”, conta o Professor Catedrático.


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