Garrafa PET: de lixo que enche o mundo à geossintético

Material reciclável despejado em aterros e oceanos, quando combinada a um elemento de filtro, a garrafa PET pode ser uma alternativa aos materiais naturais de drenagem

Foto de centenas garrafas PET de diferentes marcas ao ar livre. A garrafa PET pode ser utilizada como material de drenagem.

Toda essa quantidade de garrafa PET pode ser utilizada como material de drenagem (Foto: Carta Capital)

As famosas garrafas PET são aquelas utilizadas para armazenar refrigerantes, sucos e até mesmo água mineral. Trata-se de um material que foi criado com o objetivo de ajudar a manter determinados líquidos guardados em um recipiente seguro, que não apresenta tanto risco de quebrar durante o transporte.

Embora sejam 100% recicláveis, e existem muitos incentivos à reciclagem, com campanhas de conscientização, alertas visuais etc., ainda há muita gente que descarta esses materiais no meio ambiente em vez de as encaminhá-los corretamente para a coleta seletiva.

Um dos motivos está relacionado à demanda global por garrafas de plástico, estimulada pela indústria de bebidas: a cada minuto, um milhão de garrafas plásticas são vendidas em todo o mundo; por ano, consumimos cerca de 500 bilhões delas. Os dados são de um levantamento da Euromonitor feito a pedido do jornal britânico The Guardian.

Para se ter ideia, em 2016, o mundo comprou mais de 480 bilhões de garrafas plásticas de água. Menos da metade disso foi coletado e enviado para reciclagem. E apenas 7% delas encontraram uma segunda vida como garrafas novas. O resto ou seguiu para lixões e aterros sanitários ou foi poluir terra e mar.

Embora seja verdade que muitas dessas embalagens poderiam e deveriam ser recicladas, está cada vez mais difícil acompanhar o grande volume de resíduo plástico produzido. O que acontece quando a equação não fecha? Grande parte do lixo indigesto acaba poluindo o meio ambiente, onde demora centenas de ano para se decompor.

Entre os principais problemas associados ao descarte irregular estão:

  • Redução da biodiversidade nos oceanos;
  • Aumento da quantidade de lixo nos aterros;
  • Aumento da poluição das ruas;
  • Morte de aves e mamíferos marinhos;
  • Aumento da quantidade de algas no oceano.

Garrafa PET pode servir como parte integrante dos geossintéticos

É um lixo que enche o mundo e os oceanos, mas tem utilização quando combinada a um tipo de geossintético, podendo substituir os materiais naturais de drenagem, atualmente muito caros. O geotêxtil, por exemplo, é composto 100% de poliéster e parte expressiva do processo de produção da linha pode utilizar garrafas PET recicladas.

Quem explica isso é o Prof. Ennio Marques Palmeira, autor do livro Geossintéticos em Geotecnia e Meio Ambiente (Editora Oficina de Textos).

“Em algumas cidades, como a cidade onde moro (Brasília), os materiais naturais de drenagem podem ser muito caros, no caso da brita e areia. E já se utilizou lá em Brasília, em substituição à brita, em drenos de vias e de estradas garrafas PET prensadas. Essa matéria prensada assume a forma parecida com a de uma pedra, então ela pode ser utilizada como núcleo drenante combinada ao elemento de filtro, que seria, por exemplo, um geotêxtil no tecido, um tipo de geossintético. Essa ‘mistura’ permitiu, em obras lá em Brasília, viabilizar a utilização de garrafas PET que já são expostas em lixão ou às vezes expostas de forma irregular na natureza, causando prejuízos ambientais.”

Foto de uma mante geotêxtil feita com garrafa PET reciclada.

Manta geotêxtil feita com PET reciclado confere versatilidade e durabilidade (Fonte: AECweb)


Para saber mais

Geossintéticos em Geotecnia e Meio Ambiente reúne os 40 anos de experiência do autor no tema para tratar das aplicações dos geossintéticos por meio de uma sólida base teórica e diversos exemplos práticos.

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Capa de Geossintéticos em geotecnia e meio ambiente.