Drenagem urbana: impactos causados por sistema de drenagem inadequado ou inexistente

Com o crescimento populacional e o consequente aumento das metrópoles e a impermeabilização dos solos, há uma nova demanda que deve ser administrada pela gestão pública: o sistema de drenagem urbana

Drenagem é o termo empregado na designação das instalações destinadas a escoar o excesso de água, seja em rodovias, na zona rural ou na malha urbana, de forma a evitar danos e propiciar o conforto e o bem-estar da população.

Nesta matéria abordaremos a importância da adoção de sistemas de drenagem urbana eficientes e os impactos que o uso de medidas inadequadas podem trazer ao meio ambiente e à vida da população das grandes cidades.

Via da cidade de São Paulo alagada em decorrência de chuva e inadequação do sistema de drenagem urbana.

Enchente na região da Pompéia, na cidade de São Paulo (Fonte: Fernando Stankuns/Reprodução)

A importância da drenagem urbana

Em um terreno não impactado, o ciclo hidrológico age em suas funções com equilíbrio – parte da água precipitada infiltra, parte escoa e parte percola e alimenta os lençóis subterrâneos. 

No entanto, junto com a urbanização, vêm as construções de residências, o asfalto e a necessidade do controle da água, do esgoto, dos resíduos sólidos, das águas de drenagem etc., todos causadores de impactos ambientais que se interligam entre si e à saúde pública e à sustentabilidade.

Uma das consequências do crescimento populacional de uma cidade são os problemas provocados pelo aumento da impermeabilização dos solos, considerando que, quanto maior é a área impermeabilizada, maior é o aumento das águas de escoamento em períodos de chuva. 

Nesses períodos, as águas que, em outras superfícies, seriam infiltradas, se acumulam nas vias, acarretando diversos problemas sociais, econômicos, ambientais e de saúde pública.

Como a drenagem faz parte da infraestrutura urbana, ela deve ser estudada e planejada de forma integrada com a disposição de resíduos sólidos, o esgotamento sanitário, o controle ambiental, o tráfego, o urbanismo etc., para gerenciar e minimizar os impactos gerados pelo contato do escoamento do excesso das águas pluviais com esses sistemas e solucionar os problemas ambientais de modo global, uma vez que todos eles funcionam interligados uns aos outros. 

A drenagem urbana compreende o conjunto de todas as medidas a serem tomadas que visem à atenuação dos riscos e dos prejuízos decorrentes de inundações aos quais a sociedade está sujeita.

Impactos causados por sistema de drenagem inadequado ou inexistente

São muito importantes os estudos dos efeitos do ciclo hidrológico com relação ao equilíbrio do meio, refletindo ações em cadeia para toda a região afetada. A recarga de um aquífero, por exemplo, processa-se através das águas de chuva.

Como os aquíferos subterrâneos são responsáveis pelo abastecimento de toda nascente de água, a impermeabilização do solo poderá eliminar essas nascentes e, consequentemente, os rios desaparecerão. Em áreas urbanas, é comum a inundação localizada devido ao estrangulamento de um curso d’água por pilares de pontes, adutoras, aterros e rodovias, que reduzem a seção de escoamento do rio.

A enchente é um fenômeno natural do regime do rio no qual ele ocupa sua área de inundação em tempos de chuva. Esta passa a ser um problema quando os seres humanos deixam de respeitar os limites naturais dos rios, ocupando suas áreas marginais.

 A drenagem urbana deve ter um sistema preventivo contra inundações, principalmente nas áreas mais baixas das comunidades sujeitas a alagamentos e nas áreas marginais aos cursos d’água.

De acordo com a Fundação Estadual do Meio Ambiente (FEAM) de Minas Gerais, as inundações urbanas podem ser: 

  • Em áreas ribeirinhas: os rios possuem dois leitos – o menor, em que a água escoa durante a maior parte do tempo, e o maior, que costuma ser inundado pelo menos uma vez a cada dois anos;
  • Decorrentes da urbanização: o aumento da densidade de ocupação por edificações e obras de infraestrutura viária resulta em maiores áreas impermeáveis e, como consequência, no incremento das velocidades e dos volumes de escoamento superficial e na redução de recarga do lençol freático.
Via de São Paulo inundada devido à deficiência do sistema de drenagem urbana. Na foto, uma rua completamente alagada, com jorros de água vindos do esgoto para cima.

A principal causa das enchentes é a ocupação desordenada do solo (Fonte: Cátia Toffoletto/Reprodução)

A principal causa das enchentes deve-se à ocupação desordenada do solo, não só no território municipal como também a montante em toda a área da bacia de contribuição, e ao sistema de drenagem urbana, que transfere os escoamentos para jusante, sem qualquer preocupação com a retenção de volumes escoados. Um sistema de drenagem eficiente é o que drena os escoamentos sem causar impactos nem no local, nem a jusante.

A estratégia utilizada para solucionar os problemas de drenagem urbana esteve voltada, durante anos, para a retificação dos rios e córregos e o revestimento de suas calhas, com graves reflexos ambientais, destacando-se: aumento das velocidades de escoamento e consequente transferência de inundação para jusante; eliminação de ecossistemas aquáticos; processos erosivos nas margens dos cursos d’água; e elevados custos para o município, sem, necessariamente, obter resultados efetivos.

Gráfico dividido em quatro quadros apresentando as alterações das parcelas do ciclo hidrológico em diferentes fases da urbanização.

Alterações das parcelas do ciclo hidrológico em diferentes fases da urbanização (Imagem presente no livro Ciências do Ambiente. Todos os direitos reservados)

Atualmente, o sistema de drenagem urbana aponta para a preservação dos cursos d’água, sua despoluição e a manutenção das várzeas de inundação, de forma que não sejam necessárias obras estruturantes, reduzindo custos de implantação e problemas provocados por elas e tirando proveito do potencial urbanístico dos cursos d’água como áreas verdes e parques lineares. 

Conforme as áreas de cobertura vegetal são substituídas por materiais impermeáveis, estimula-se a redução da infiltração do solo e gera-se um aumento na erosão e na produção de sedimentos, acarretando cada vez mais a ausência de proteção das superfícies. 

Assim, há aumento significativo das vazões máximas (de até sete vezes) e redução do tempo de escoamento dessas águas. Esse processo se agrava conforme as tendências climatológicas locais vão sendo cada vez mais impactadas pelo crescimento desordenado das cidades, colaborando para que os sistemas de drenagem aplicados tornem-se gradativamente deficitários, pois não atendem mais às demandas para as quais foram estruturados no instante de sua construção.

O planejamento urbano engloba planos e programas de gestão de políticas públicas, por meio de intervenções de forma harmônica no espaço urbano. De modo personalizado a cada localidade, o planejamento busca estabelecer regras de ocupação do solo e políticas de desenvolvimento de maneira a proporcionar melhorias à qualidade de vida da população. 

Planejar o crescimento da estrutura da cidade faz parte do plano de gestão, de forma a garantir a melhoria contínua desse processo.


Para saber mais

Publicado em 2021 na livraria técnica Ofitexto, Ciências do ambiente, de autoria da professora Regina Pacca Costa, explica a política ambiental e sua organização, a legislação ambiental vigente e conceitos e limites dos padrões de qualidade exigidos. 

Amplamente ilustrado, o livro conta com um texto didático, exemplos práticos e comentários sobre as mudanças mais recentes na legislação ambiental, este livro é uma leitura fundamental para engenheiros, tecnólogos, técnicos, gestores ambientais e outros profissionais que planejam atuar na organização, gestão ou controle de atividades relativas ao meio ambiente.

Capa de Ciências do ambiente.