Irradiação e contaminação, por Emico Okuno

Todas as pessoas que sofrem contaminação também sofrem irradiaçãomas nem todas as pessoas irradiadas são contaminadas. Entenda!

Foto de área atingida pelo acidente nuclear de Chernobyl, na Ucrânia, onde houve irradiação e contaminação. Na foto, um homem está de pé parado em um terreno vazio, com destroços pelo chão e um prédio depredado ao fundo.

Área atingida pelo acidente nuclear de Chernobyl, na Ucrânia (Fonte: Pixabay)

Tanto os raios X quanto os raios gama que incidem em qualquer material ou em seres humanos não os tornam radioativos.

Entretanto, se uma pessoa ingerir ou inalar radionuclídeos, diz-se que ela foi contaminada internamente, e, se tiver radionuclídeos na superfície do corpo, que foi contaminada externamente, e ela própria se torna uma espécie de fonte radioativa.

Todas as pessoas contaminadas também sofrem irradiação, uma vez que estão com átomos radioativos dentro ou fora do corpo.

Porém, nem todas as pessoas irradiadas são contaminadas, ou seja, elas podem não estar contaminadas, apesar de estarem expostas à radiação emitida por átomos radioativos de uma pessoa, material ou local contaminado, dependendo da proximidade.

Pimenta-do-reino, o leite e os peixes

Produtos como a pimenta-do-reino são expostos a irradiação maciçamente para fins de esterilização e não se tornam radioativos, da mesma forma que não se tornam radioativos os seres humanos radiografados.

No entanto, os produtos que foram expostos à poeira radioativa ficam contaminados. Foi o que aconteceu na Europa com o leite produzido pelas vacas após o acidente de Chernobyl: em uma reação em cadeia, as vacas comeram capim contaminado com césio-137 e iodo-131 trazidos pelas nuvens e chuvas, e então o leite produzido por elas também se tornou contaminado.

Após o acidente nos reatores de Fukushima Dai-ichi, os peixes do mar próximo também se contaminaram com radionuclídeos.

Acidente em Goiânia

No acidente de Goiânia, cerca de 250 pessoas foram contaminadas interna e externamente, isto é, entraram em contato direto com os átomos de césio-137.

Na verdade, a contaminação começou com um número bem menor de pessoas, que foram passando os átomos de césio-137 a outras por meio do aperto de mão, por exemplo.

Um número bem maior de indivíduos não contaminados sofreu irradiação em Goiânia, isto é, não tinha átomos de césio na pele nem os havia ingerido ou inalado, porém esteve perto de pessoas ou objetos contaminados.

Chernobyl e Fukushima

Com o acidente de Chernobyl, praticamente todo o solo europeu foi contaminado, e o grau de contaminação variou muito de local para local, dependendo da direção do vento que carregou a poeira radioativa, da quantidade de chuvas locais etc.

Quanto ao acidente com os reatores de Fukushima, a água radioativa usada para resfriar os núcleos dos reatores acidentados está estocada em imensos contêineres nas vizinhanças dos reatores, e alguns deles têm esporadicamente apresentado vazamentos.


Para saber mais

Está disponível a 2ª edição do livro Radiação: efeitos, riscos e benefícios, escrito pela Professora Emico Okuno.

A obra permite ao leitor compreender os conceitos básicos da Física das radiações, seus efeitos biológicos, formas de proteção e suas aplicações na indústria e na Medicina, particularmente no tratamento do câncer. 

Apresenta também a história das radiações: a descoberta da radioatividade, os primeiros tratamentos radioterápicos, o projeto Manhattan e as bombas atômicas, os reatores nucleares e os principais acidentes envolvendo radiações.

Capa de Radiação: efeitos, riscos e benefícios.