Movimentos de massa em vertentes: como cientistas avaliam os riscos geomorfológicos?

Os movimentos de massa em vertentes são movimentações que ocorrem com massas de terra ou rochas em descida. Eles acontecem com frequência em diversas partes do mundo, provocando elevadas perdas humanas e econômicas anualmente. 

São cinco os distintos tipos de movimentos de massa em vertentes, que diferem quanto ao mecanismo envolvido em sua ocorrência: 

  • desabamento;
  • balançamento;
  • deslizamento; 
  • expansão lateral; 
  • escoada. 

São diversos os fatores que podem influenciar na ocorrência dos movimentos de massa em vertentes, bem como em seu potencial destrutivo, e envolvem aspectos naturais, como chuvas fortes, e socioeconômicos, como a instalação de moradias em áreas suscetíveis, expondo os usuários ao risco. 

Neste artigo, falaremos sobre os esforços que a comunidade técnico-científica tem empenhado a fim de reduzir as consequências das instabilidades das vertentes por meio da avaliação dos fenômenos, riscos e perdas. 

Avaliação dos riscos de movimentos de massa em vertentes

A fim de reduzir os danos provocados nas diversas formas de movimentos de massa em vertentes, especialistas buscam analisar os riscos geomorfológicos a partir das respostas para as seguintes perguntas:

  1. Que fenômeno?
  2. Onde?
  3. Até onde?
  4. Que tamanho?
  5. Quando?
  6. Quem? O quê? Quanto?
  7. Grau de perda?
Esquema conceitual da análise do risco geomorfológico, com as perguntas detalhadas acima elencadas na imagem.

(Imagem presente no livro Riscos híbridos, publicado pela Oficina de Textos. Todos os direitos reservados)

As cinco primeiras questões se resolvem a partir da avaliação da perigosidade, ou seja, a probabilidade de ocorrência de movimentos de massa em vertentes com magnitude, período e área específicos. Esta inclui a suscetibilidade, definida como a tendência que uma vertente tem de sofrer movimentos de massa diante de um conjunto de fatores. 

A pergunta de número seis se refere aos elementos expostos (ou em risco), ou seja, as pessoas, propriedades e infraestruturas que são potencialmente afetáveis pelos movimentos de massa em vertentes, os quais podem levar às perdas humanas e econômicas mencionadas anteriormente. 

O grau de perda resultante de um desastre ocasionado por movimentos de massa em vertentes diz respeito à vulnerabilidade e, na análise de risco, é expresso em uma escala de 0 a 1, em que zero significa nenhuma perda e um, perda total. 

O conjunto dos elementos que compõem o esquema conceitual da análise de risco geomorfológico é expresso na fórmula:

Perigosidade × consequências (valor × vulnerabilidade) = risco

O processo da análise de risco busca traçar prospecções e envolve níveis elevados e crescentes de incertezas epistêmicas e aleatórias desde a identificação dos fatores de ameaça até a avaliação das consequências. 

Foto aérea de deslizamento de terra no Rio de Janeiro em 2019, com cicatriz na vegetação do morro.

Deslizamento de terra na Avenida Niemeyer, no Rio de Janeiro, em 2019 (Foto: Richard Santos/Prefeitura do Rio de Janeiro)

Causas dos movimentos de massa em vertentes

São diversos os processos que podem levar as vertentes naturais (ou encostas) à instabilidade, o que pode ocorrer por causas internas – divididas em fatores hidrológicos e de resistência – ou externas, que originam um aumento de tensão tangencial (gravitacional). 

As causas mais comuns da instabilidade geomorfológica nas encostas são os fatores hidrológicos instantâneos. A presença da água, na maior parte das vezes, advinda das chuvas, provoca uma diminuição da estabilidade (ou resistência ao corte), seja em solos saturados ou em solos não saturados. 

O aumento da pressão da água nos poros das superfícies nas vertentes está diretamente relacionado à profundidade do plano de ruptura e, por este motivo, a instabilidade que provoca deslizamentos superficiais pode ocorrer mesmo com quantidades pequenas de água das chuvas, ao contrário do que acontece nos casos de deslizamentos profundos. 

Para além das causas geomorfológicas dos movimentos de massa em vertentes, há outros fatores que envolvem os aspectos socioeconômicos do risco de deslizamentos em encostas. Estes se relacionam, na maior parte dos casos, a cenários que tornam as populações que residem em locais de declive expostas a esse tipo de perigo, como as condições inadequadas de infraestrutura pública para moradia. 

De acordo com  pesquisa publicada pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) em 2013, os deslizamentos de terra foram responsáveis por 87,15% das mortes ocasionadas por desastres no Brasil entre os anos de 1991 e 2012. 

Foto aérea de deslizamento de encosta de morro em Angra dos Reis, onde logo abaixo se vê um conjunto de residências.

Deslizamento de encosta em Angra dos Reis em 2010. 17 pessoas morreram (Foto: Roosewelt Pinheiro/ABr – Agência Brasil)

Livro da Ofitexto aborda deslizamentos superficiais de encostas

O livro Riscos híbridos: concepções e perspectivas socioambientais, publicado pela livraria técnica Ofitexto no último mês de junho, trata dos diversos tipos de riscos aos quais as populações estão expostas em todo o mundo, sobretudo após o início dos processos de industrialização e urbanização. 

Organizado por Francisco Mendonça, a obra é composta por artigos assinados por pesquisadores das áreas da Geografia e das Ciências Humanas e Sociais, que abordam temas diversos que ajudam a compreender a proposta desse conceito pioneiro nos estudos nessas áreas, os riscos híbridos.

Além disso, o livro conta com um capítulo inteiramente dedicado aos deslizamentos superficiais e escoadas de detritos a partir dos movimentos de massa em vertentes, e outro que aborda em detalhes o Índice DRIB, responsável por avaliar diferentes níveis de exposição e vulnerabilidade a riscos socioambientais. 

A publicação está disponível para aquisição na livraria técnica Ofitexto. 

Capa de Riscos híbridos.

(Capa de Riscos híbridos, publicado pela Oficina de Textos. Todos os direitos reservados)