O impacto dos edifícios no meio ambiente

Apesar do grande valor estético, arquitetos e projetistas devem sempre estudar o impacto que suas obras podem causar no meio ambiente

Tendo em vista os graves problemas ambientais enfrentados pelo nosso planeta, a introdução de uma cultura arquitetônica que considere relevante os condicionantes ambientais parece urgente e atual. Igualmente relevante é a inclusão do discurso ético num plano de equilíbrio e igualdade de importância como discurso estético.

Apesar da indiscutível importância da estética para o deleite humano, considera-se fundamental o estímulo à discussão sobre os aspectos éticos e suas repercussões na concepção arquitetônica. Isso inclui a reflexão sobre o impacto dos edifícios no meio ambiente, em três níveis.

primeiro nível consiste nas consequências decorrentes da inadequação do edifício ao meio ambiente que o envolve, demandando a utilização de equipamentos eletromecânicos para corrigir essa inadequação. Nessa categoria, encontram-se os sistemas de iluminação artificial e de ar condicionado, fortes consumidores de energia.

No segundo nível está o impacto proporcionado pela edificação no entorno imediato e sua relação com a legislação municipal. A prática profissional demonstra que os códigos de edificações precisam ser revistos com o intuito de incluir restrições construtivas que impeçam os edifícios de atuarem como obstruções que bloqueiem o aproveitamento de características ambientais positivas, induzindo a formação de uma malha urbana que favoreça o acesso à luz e à ventilação naturais, ou estimule o aproveitamento de tais aspectos.

Um bom exemplo dessa situação reside no estímulo à utilização de pilotis e de pavimentos vazados, favorecendo uma maior permeabilidade da malha urbana aos ventos predominantes.

No terceiro nível, encontra-se o impacto produzido pelo aglomerado de edificações no âmbito das cidades e suas repercussões no clima urbano e regional. Traçados urbanos que proporcionem o aproveitamento das potencialidades do clima local e minimizem seus aspectos negativos devem ser perseguidos em detrimento de modelos gerados pela lógica capitalista, em que o lucro se apresenta como diretriz principal, ou pela simples reprodução de modelos oriundos de diferentes contextos.

No Brasil, por exemplo, assiste-se há décadas à implantação de grandes conjuntos habitacionais que desconsideram as preocupações ambientais tanto no desenho urbano quanto na implantação das edificações nos lotes. A arquitetura espetacular e exibicionista, que caracteriza a maioria de nossas cidades, deveria dar lugar a uma arquitetura cuja beleza existisse em equilíbrio com as preocupações relativas àqueles que a utilizarão, bem como ao meio ambiente que nos cerca.


Para saber mais

Confira o livro Edifício ambiental organizado por Joana Gonçalves e Klaus Bode. A obra discute os fundamentos atualizados do desempenho ambiental dos edifícios e a relação entre ambiente urbano e desempenho dos edifícios, além de métodos e ferramentas para o projeto e a avaliação do desempenho ambiental e energético dos edifícios.

Inclui ainda a apreciação crítica de edifícios em uso e operação, as possibilidades da requalificação e as questões socioeconômicas da agenda do desempenho ambiental dos edifícios, com especial atenção à noção de valor e novas tendências de mercado.

Capa de Edifício ambiental, obra em que os autores discutem extensivamente o impacto dos edifícios no meio ambiente.