Sistema Brasileiro de Classificação de Solos: conheça o SiBCS

Sistema Brasileiro de Classificação de Solos (SiBCS) é um sistema que foi elaborado no Brasil com a finalidade de categorizar os solos, dar a eles nomes científicos e elaborar legendas para os mapas de solos.

Para Igo F. Lepsch, autor do livro 19 lições de pedologia, é importante que exista essa classificação para que haja uma organização dos conhecimentos a respeito dos solos brasileiros, a fim de entender as relações existentes entre os diversos tipos e, por fim, estabelecer relações entre eles de forma que possa ser útil para fins específicos. 

Portanto, os dados presentes no Sistema Brasileiro de Classificação de Solos contam somente com informações relacionadas aos solos do Brasil, sendo que a maior parte foi descrita no campo por ocasião de levantamentos pedológicos do tipo reconhecimento, efetuados pelo Centro Nacional de Pesquisas em Solos da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (CNPS/Embrapa).

Esse Centro iniciou seus trabalhos na década de 1950, com a denominação de Comissão de Solos do CNEPA. Por volta de 1980, reconheceu-se que muitas unidades taxonômicas então utilizadas não estavam bem definidas e categorizadas. Além disso, elas necessitavam de chaves sistemáticas. Como resultado, em 1999, surgiu a primeira versão do Sistema Brasileiro de Classificação de Solos

Estrutura hierárquica do Sistema Brasileiro de Classificação de Solos

Dentro da concepção de um sistema multicategórico e hierárquico, à semelhança das classificações biológicas, o Sistema Brasileiro de Classificação de Solos foi estruturado em seis níveis

O primeiro nível – ordem – engloba 13 classes, definidas principalmente pela presença ou ausência de horizontes diagnósticos que refletem diferenças relacionadas a processos pedogenéticos

A nomenclatura adota termos consagrados em outras taxonomias de solos, boa parte dos quais são também utilizados no sistema de classificação da FAO/Unesco-WRB

Hierarquização do atual Sistema Brasileiro de Classificação de Solos: ordem, subordem, grande grupo, subgrupo família e série. À direita, os solos do Brasil: Organossolos, Neossolos, Vertissolos Espodossolos, Planossolos, Gleissolos, Latossolos, Chernossolos, Cambissolos, Plintossolos, Luvissolos, Nitossolos e Argissolos.

À esquerda, a estrutura da hierarquização do atual SiBCS. Das seis categorias (ordem, subordem etc.), as séries ainda não têm suas classes (ou táxons) estabelecidas. À direita, o nome das 13 subordens (Imagem retirada do livro 19 lições de pedologia, publicado pela Oficina de Textos. Todos os direitos reservados)

Ao contrário da nova classificação dos Estados Unidos, o Sistema Brasileiro de Classificação de Solos foi elaborado tomando como base perfis representativos de solos enquadrados em táxons dos níveis hierárquicos mais elevados identificados em levantamentos dos tipos reconhecimento e exploratório com nomes provisórios da antiga classificação dos EUA. 

Até a última versão da classificação, publicada em 2018, somente classes dos quatro primeiros níveis categóricos foram definidas: as famílias estavam com definições de teste e as séries não foram definidas. 

O número de classes aumenta de 13 para 44, da categoria taxonômica de ordem para a de subordem, e de 198 para 861, quando nos referimos aos grandes grupos e subgrupos, respectivamente.

Os critérios para distinção das diversas classes de solos brasileiros baseiam-se na presença ou ausência de horizontes diagnósticos, bem como de algumas de suas características mais especiais, denominadas atributos diagnósticos.

Horizontes e atributos diagnósticos

Os horizontes diagnósticos podem ser de dois tipos: superficiais e subsuperficiais. Exemplos dos superficiais são os horizontes A e os horizontes O e H.

Como exemplos de horizontes diagnósticos subsuperficiais, temos tipos de horizontes B (latossólico, textural etc.) e outros que podem corresponder, totalmente ou em parte, aos horizontes morfológicos A, E, B ou C (glei, plíntico, vértico, duripã, álbico etc.). Além dos horizontes diagnósticos, outras camadas ou atributos especiais dos horizontes principais são reconhecidas e definidas.

Essas feições são mais utilizadas como critérios diagnósticos nos níveis categóricos mais baixos do sistema e incluem vários parâmetros morfológicos, físicos e químicos, tais como: material orgânico, atividade das argilas, saturação por bases, mudança textural, quantidade de plintita etc.

Quadro com os atributos mais notáveis dos solos do Brasil.

Quadro que apresenta os principais horizontes e atributos diagnósticos do solo e suas definições simplificadas segundo o SiBCS (Imagem retirada do livro 19 lições de pedologia, publicado pela Oficina de Textos. Todos os direitos reservados)

Como identificar um solo no primeiro nível categórico (ordem)?

Para identificar a classe de um determinado solo, temos que conhecer sua descrição morfológica e o resultado de suas análises de laboratório. Com isso, será possível identificar os horizontes diagnósticos superficiais e subsuperficiais, bem como os principais atributos diagnósticos. 

Feito isso, deve-se consultar a chave de identificação da categoria mais elevada, onde os solos foram primeiro organizados com base na presença ou ausência de atributos que refletem sua gênese: as ordens. 

Identificando os horizontes e os atributos diagnósticos e seguindo a chave, poderemos verificar, por exemplo, que um perfil de solo que não apresentar horizonte hístico com mais de 40 cm de espessura e sem qualquer dos horizontes B diagnósticos deve ser enquadrado na classe dos Neossolos.

O segundo nível categórico: as subordens

No nível de subordem, as classes apresentam atributos que refletem a atuação de processos pedogenéticos que agiram conjuntamente ou afetaram os processos dominantes já considerados para separar os solos no primeiro nível categórico. 

Esses atributos, além de ressaltar a presença ou ausência de outros horizontes diagnósticos não considerados no nível de ordem, incluem características diferenciais que representam variações dentro das classes do primeiro nível, como a cor do horizonte B. 

Por exemplo, um solo primeiramente enquadrado na classe dos Neossolos poderá pertencer a uma das quatro subordens:

  1. Neossolo Litólico (se tiver horizonte A assentado diretamente sobre rocha);
  2. Neossolo Flúvico (horizonte A sobre horizonte C, de origem fluvial);
  3. Neossolo Regolítico (quando o horizonte A está sobre o C, oriundo diretamente de rocha decomposta);
  4. Neossolo Quartzarênico (quando o horizonte A está assentado diretamente sobre um horizonte C onde predomina areia constituída de quartzo).
Esquema dos horizontes diagnósticos de um perfil representativo da classe dos Latossolos.

Esquema dos horizontes diagnósticos de um perfil representativo da classe dos Latossolos. Qualquer tipo de horizonte mais superficial, exceto o hístico, pode se sobrepor ao B latossólico; este é comumente bem espesso (mais de 2 m) (Imagem retirada do livro 19 lições de pedologia, publicado pela Oficina de Textos. Todos os direitos reservados)

O terceiro nível categórico: os grandes grupos

No terceiro nível categórico estão os grandes grupos, que representam subdivisões das subordens baseadas no tipo, no arranjo e no grau de expressão dos horizontes, com ênfase na atividade da argila e na saturação do complexo de adsorção por bases ou por alumínio, ou por sódio e/ou por sais solúveis. 

Algumas características que restringem e/ou afetam o desenvolvimento de raízes foram também consideradas, bem como teores de óxidos de ferro em algumas subordens dos Latossolos.

Por exemplo, o perfil de um solo identificado como Neossolo Flúvico deverá ser enquadrado em uma das classes dos sete grandes grupos previstos para essa subordem; entre eles está o Neossolo Flúvico Sódico, que apresenta alta saturação por sódio.

O quarto nível categórico: os subgrupos

No quarto nível categórico, o de subgrupos, os solos são agrupados em classes que se distinguem por características que representam o conceito central da classe e por outras que indicam se tal conceito é intermediário para o primeiro, o segundo ou o terceiro nível categórico. 

Consideram-se também algumas características extraordinárias, por exemplo, os solos afetados por atividades antrópicas, que são adjetivados como antropogênicos. 

Dessa forma, um solo enquadrado como Neossolo Flúvico Sódico poderá enquadrar-se em um dos três subgrupos previstos para essa classe, entre os quais estão o Neossolo Flúvico Sódico típico e o Neossolo Flúvico Sódico vértico – o primeiro mais típico do grande grupo e o segundo, com características intermediárias para a classe dos Vertissolos.

O quinto e o sexto níveis categóricos: famílias e séries

O quinto nível categórico (famílias), foi definido recentemente e ainda está em discussão. As famílias estão sendo provisoriamente definidas com base em propriedades físicas, químicas e mineralógicas, e em propriedades que refletem condições ambientais não consideradas nas categorias anteriores. 

Nesse nível, consideram-se características para fins de utilização agrícola e não agrícola dos solos como atributos diferenciais. Foi estabelecida a seguinte sequência na designação da família: 

a) grupamento textural;

b) distribuição de cascalho e concreções no perfil;

c) constituição esquelética do solo;

d) tipo de horizonte A (que não tenha sido utilizado em outros níveis categóricos);

e) saturação por bases (especificação do estado de saturação, como hiper, meso, epi etc.);

f) saturação por alumínio;

g) teor de óxidos de ferro;

h) caráter alofânico;

i) características especiais pedogenéticas ou decorrentes do uso;

j) profundidade;

k) reação do solo. 

Para a classe dos Organossolos, devem ser adotados critérios especiais que privilegiem a natureza da matéria orgânica do solo. O nome do solo das famílias deve ser formado adicionando ao nome do subgrupo os qualificativos pertinentes, com letras minúsculas, separados por vírgula. 

Por exemplo: Latossolo Amarelo Ácrico petroplíntico, textura argilosa cascalhenta, endoconcrecionário, A moderado, gibbsítico-oxídico, aniônico.

O sexto nível categórico, ainda não estruturado, deverá ser a categoria que engloba as classes mais homogêneas do sistema, correspondente ao nível de séries de solos. Uma série deverá compreender solos pedogeneticamente idênticos, situados em áreas onde dominam pedons com horizontes similares, no que diz respeito às feições da paisagem e dos horizontes do perfil do solum.

Para identificar unidades de mapeamento correspondentes às séries, normalmente são levadas em conta a forma do terreno, a morfologia dos horizontes, a natureza do material de origem e a drenagem interna

Elas são consideradas um dos principais meios pelos quais informações detalhadas acerca de um solo em determinado lugar podem ser projetadas para solos similares em outros locais. Para a nomenclatura das séries serão utilizados nomes próprios, geralmente referenciados a lugares onde a série foi primeiramente reconhecida, descrita e oficialmente registrada.


Para saber mais

O livro 19 lições de Pedologia é uma abrangente introdução à Ciência do Solo, especialmente desenvolvido para as condições brasileiras. A obra explora as rochas e minerais que dão origem aos solos, os processos de formação e degradação, e sua biologia, física e química. 

A obra está em sua segunda edição e está disponível para aquisição em nossa livraria técnica.

Capa de 19 lições de Pedologia.