O biólogo e escritor inglês Merlin Sheldrake é apaixonado pelo mundo dos seres invisíveis desde criança. Com o tempo, os fungos dominaram sua curiosidade, e ele mergulhou de cabeça nesse universo singular: ainda na faculdade, fez bebidas alcoólicas a partir de receitas medievais e, depois, se arrastou pelo solo de florestas tropicais coletando espécimes, passou incontáveis horas no laboratório, provou a psilocibina dos cogumelos mágicos, visitou e entrevistou outros pesquisadores e aficionados.
A trama da vida, o resultado desse mergulho, contempla ainda uma desconcertante reflexão sobre o fazer científico. O papel essencial dos fungos no engendramento do mundo em que vivemos e seu lugar na evolução de outras espécies – como na passagem das plantas da água para a terra – só começou a ser evidenciado nas últimas décadas. Isso também é fruto de uma mudança de percepção que deslocou o centro do debate do homem para a Terra e seus organismos como um sistema.
Os mais de dois milhões de espécies de fungos desafiam nossas ideias tradicionais de individualidade e inteligência. Graças a seu imenso poder de adaptação – que lhes permite, por exemplo, decompor poluentes e compostos químicos complexos –, os fungos certamente terão papel central na reorganização da vida humana necessária para aplacar a crise climática em curso. De tijolos a chips de computador, há infinitos usos possíveis – e as descobertas são espantosas e promissoras.