A imunidade de plantas a herbívoros é bastante rara na natureza. Assim, é compreensível a carência de exemplos de resistência em plantas cultivadas permitindo que essa tática, por si só, possa proteger uma cultura contra todas as pragas. Exemplos de genótipos comerciais ou selvagens altamente resistentes a insetos existem e são discutidos neste livro. Essa tática não tem a pretensão de excluir a aplicação de outras práticas de controle de artrópodes-praga nos sistemas agrícolas; no entanto, sua adoção pode reduzir significativamente os impactos decorrentes do uso abusivo e ou incorreto de determinadas práticas, como aqueles frequentemente relacionados ao método químico.
Comumente, a resistência é considerada uma tática de grande eficiência quando integrada às outras ferramentas do MIP, principalmente o controle biológico. Com o amadurecimento dos conceitos envolvendo interações tritróficas nas relações inseto-planta, estabeleceu-se uma base teórica robusta para fundamentar a integração do controle biológico à resistência de plantas. Desenvolvimento paralelo vêm apresentando os programas de agroecologia, os quais promovem técnicas de manejo do hábitat para conservar e atrair inimigos naturais em pomares, hortas e culturas de campo. Esses avanços têm o potencial de promover o MIP aos níveis mais elevados de integração.
A partir da década de 1990, avanços no conhecimento da genética de plantas e animais permitiram realizar o que era apenas uma visão futurista, como sugere a citação: “dia virá em que novas variedades resistentes serão ‘planejadas’ e ‘construídas’, combinando o conhecimento do comportamento e metabolismo dos insetos-praga e a identificação nas plantas dos genes que regulam os fatores químicos e físicos da resistência”. Havia começado uma nova era da resistência: a era da engenharia genética.
Este livro mostra de forma abrangente o desenvolvimento histórico, técnicas de produção, aplicações, riscos e precauções no desenvolvimento e uso extensivo de genótipos resistentes. Incentivos para o ensino e a pesquisa entomológica no Brasil, nos últimos cinqüenta anos, propiciaram o surgimento de um quadro de professores e pesquisadores de alto nível nas universidades e centros de pesquisa estaduais e federais. A publicação deste livro reúne pesquisadores que estão na vanguarda da pesquisa das relações inseto—planta e da sua aplicação na resistência de plantas; adiciona ao acervo da literatura entomológica brasileira um título de excepcional importância para o ensino e a pesquisa de uma tática fundamental para o MIP; e proporciona uma visão lúcida e compreensiva das bases ecológicas das interações inseto-planta.