Obra essencial de consulta a botânicos, o “Atlas Palinológico” agrega uma palinoteca de referência, a qual pode servir como parâmetro em comparações de materiais palinológicos contidos em sedimentos ou demais tipos de materiais. A obra, em publicação bilíngue (português/inglês), traz documentado 174 pranchas de grãos de pólen e esporos referentes a 908 espécies de plantas da Mata Atlântica da costa norte do Estado do Espírito Santo. Informativo, didático e prático, o atlas traz as descrições morfológicas de esporos, monocotiledôneas, eudicotiledôneas, magnoliídeas e nymphaeales relacionando cada uma de suas famílias às pranchas correspondentes. Todo o procedimento palinológico para a extração dos esporos e grãos de pólen do material fértil das exsicatas foi realizado no Laboratório 14C do CENA-USP.
No final de 2006 recebeu-se convite do Engenheiro Agrônomo Samir Rolim, com endosso do Engenheiro Florestal Renato Moraes de Jesus, respectivamente funcionário/ pesquisador e gestor da Reserva Natural Vale (RNV), para desenvolver-se estudos de reconstituição paleoambiental em área muito bem preservada de Mata Atlântica de aproximadamente 23.000 hectares, costa norte do Espírito Santo. Após visita para reconhecimento do futuro local de pesquisas, encaminhou-se projeto à FAPESP (“Reconstrução da vegetação e clima desde o Holoceno médio no Brasil”) que foi aprovado no segundo semestre de 2007 e em 2008 iniciou-se estudos com apoios adicionais do CNPq.
Além da exuberância da floresta, campos e estrutura geral da RNV, o que também chamou a atenção de nossa equipe foram as instalações e a base de dados do herbário local, com mais de 16.000 exsicatas de plantas da reserva e para onde, de forma simultânea com as pesquisas de campo, foram direcionadas as visitas. Com essa estratégia, obteve-se o apoio botânico para os levantamentos da flora atual que eram realizados próximos aos locais de amostragem nos estudos sobre a dinâmica da vegetação, fosse com o emprego dos isótopos do C no solo ou, pela primeira vez na história da equipe, com o uso de palinomorfos e outros bioindicadores em sedimentos de lagos, abundantes na região.
Com base nos estudos dos sedimentos lacustres, verificou-se rapidamente a necessidade de se estabelecer uma coleção de referência de grãos de pólen e esporos (palinoteca) no Laboratório 14C do CENA em Piracicaba, e com o apoio e colaboração dos funcionários da RNV e principalmente do curador do herbário, Geovane Siqueira, iniciou-se a coleta de pólen das anteras das exsicatas cujas amostras foram transportadas in natura e preparadas na forma de lâminas, em Piracicaba.
Este procedimento continuou durante os três anos de duração dos dois primeiros projetos de pesquisa, sendo que em 2011 conseguiu-se a aprovação do Temático FAPESP (Estudos interdisciplinares na costa do Espírito Santo), internamente denominado ProjES, em que por mais cinco anos investiu-se na segunda etapa dos estudos, finalizou-se a coleção de referência de grãos de pólen e esporos do herbário na forma de lâminas e iniciou-se a sua digitalização. Finalmente, em 2017, após muitas colaborações, discussões e otimizações de protocolos, desenvolveu-se este documento de mais de 300 páginas, 174 pranchas de grãos de pólen e esporos referentes a 908 espécies de plantas da Mata Atlântica da costa norte do Espírito Santo, com o objetivo de ser informativo, didático e prático.
Espera-se que este Atlas seja útil a todos os usuários do Brasil e do exterior que desenvolvem estudos no Quaternário com pólen e esporos de Mata Atlântica, como está sendo para o nosso grupo em pesquisas correlatas.