O Príncipe (em italiano, Il Principe) é um livro escrito por Nicolau Maquiavel em 1513, cuja primeira edição foi publicada postumamente, em 1532. Trata-se de um dos tratados políticos mais fundamentais do pensamento humano, desempenhando um papel crucial na construção do conceito de Estado como o conhecemos hoje.
No mesmo estilo do Institutio Principis Christiani, de Erasmo de Roterdã, O Príncipe descreve as maneiras de conduzir-se nos negócios públicos, internos e externos, e, fundamentalmente, como conquistar e manter um principado.
Maquiavel deixa de lado o tema da República, que seria mais bem explorado em Discursos sobre a Primeira Década de Tito Lívio. Diante da situação política italiana durante o Renascimento, há teorias de que o escritor, considerado republicano, via o principado como uma solução intermediária para unificar a Itália. Após a unificação, seria possível então estabelecer uma república.
O tratado político é composto por 26 capítulos, além de uma dedicatória a Lourenço II de Médici (1492–1519), Duque de Urbino. Através de conselhos, sugestões e reflexões baseadas em eventos políticos das principais localidades de então, Maquiavel esperava conquistar a confiança do duque, que, em troca, poderia lhe conceder um cargo. No entanto, ele não alcançou suas ambições.
É neste livro que surge a famosa expressão "os fins justificam os meios", que significa que as ações de um governante são válidas se visam manter a sua autoridade. Contudo, a frase não aparece literalmente no texto; trata-se de uma interpretação tradicional do pensamento maquiavélico.
Alguns cursos de administração fazem leituras aparentemente distorcidas da obra, sugerindo que uma empresa, ao aplicar as análises metódicas do autor, poderia prosperar no mercado. Em O Príncipe, Maquiavel defende a centralização do poder político, mas não necessariamente o absolutismo, como muitas vezes se pensa.
As recomendações aos governantes sobre a melhor maneira de administrar caracterizam a obra como uma teoria do Estado moderno. Uma leitura apressada ou enviesada pode levar à interpretação de que Maquiavel defende a ausência de ética na política, com a ideia de que "os fins justificam os meios". No entanto, para compreender sua teoria, é essencial considerar o contexto da Itália renascentista, onde se lutava contra os particularismos locais.
Durante o século XVI, a península Itálica estava dividida em vários pequenos Estados, incluindo repúblicas, reinos, ducados e os Estados da Igreja. As disputas de poder entre esses territórios eram constantes, e era comum que os governantes contratassem condottieri (mercenários) para obter conquistas territoriais.
A obra de Maquiavel reflete a consciência do autor sobre o perigo da fragmentação política da península em diversos estados, que estariam vulneráveis às grandes potências da Europa.