As plantas fazem aquilo que sempre fizeram ao longo de milênios e que muitas pessoas também gostam de fazer: viajar. Andar de um lado para o outro, deixando atrás de si e à sua volta um rastro de sementes que se expandem e se propagam.
É isso que fazem os humanos e todos os seres da Terra, crescer e multiplicar-se e, no caso de algumas espécies, extinguir-se.
As plantas e as algas foram os primeiros seres a habitar o planeta, começaram na água e daí foram evoluindo para estruturas cada vez mais complexas e sofisticadas até as incríveis e maravilhosas flores que hoje conhecemos e que tanto nos encantam.
Estima-se que no mundo existam cerca de 345.000 espécies de plantas vasculares e que todos os anos se descobrem cerca de 2000 novas espécies. No entanto, é a primeira vez que toda esta diversidade botânica se encontra ameaçada de forma alarmante e irreversível.
Uma das grandes especificidades das plantas é a sua capacidade de adaptação a novos habitats, a mudanças climáticas, à intervenção humana e a toda uma série de desafios que as ameaça e as destrói. Atualmente duas em cada cinco plantas estão em perigo de extinção.
Quis prestar-lhes homenagem em mais um livro sobre os seus usos medicinais mas também comestíveis, a sua importância para a manutenção da biodiversidade no planeta, alimentando insetos, aves, répteis e tantos mamíferos. Muitas delas são benéficas para os solos, quer oferecendo-lhes nutrientes, quer fixando as terras impedindo a erosão. São inúmeras as suas funções e muitas são também as histórias das suas viagens à volta do planeta. Nem sempre se conta a história da ligação ao comércio de escravos e ao colonialismo quando falamos do algodão, da cana-de-açúcar, do café, do cacau, do chá e de muitas das especiarias que não dispensamos nas nossas cozinhas ou nos nossos pratos.
Desde a invenção das fibras sintéticas que as utilizações do cânhamo e da canábis e seus derivados ficaram um pouco esquecidas e só recentemente se voltou a valorizar esta incrível planta, quer do ponto de vista medicinal quer do ponto de vista das suas resistentes fibras naturais.
Algumas destas plantas carregam histórias, lendas e simbolismo que quis aqui contar, como o facto de a énula ser uma das plantas favoritas dos elfos, o que deu origem ao seu nome inglês de elfwort, ou, segundo outra lenda persa, um anjo expulso do Paraíso por estar apaixonado por uma mortal teve como penitência a tarefa de semear o encantador não-me-esqueças (miosótis) em todo o mundo.
Quis contar a história da papoula e do harpago e a sua importância como medicamento no alívio da dor crónica.
Partilho aqui também histórias e factos sobre a utilização e o conhecimento das plantas entre os povos indígenas das Américas, de África ou da Ásia, de onde muitas das plantas são originárias, como é o caso da ashwagandha, da equinácea, da peónia, da figueira-da-índia, do agave, da passiflora e tantas outras. Todas elas são medicinais, muitas são comestíveis, outras transportam poemas nas suas pétalas e magia nas suas formas, algumas revelam segredos da sua ancestralidade mas todas partilham connosco o mesmo ADN.
Estas amigas a quem temos o desplante de chamar invasoras, povoaram o planeta muito antes de nós e habitam-no de forma mais sábia e inteligente do que o ser humano. Será que as plantas com a sua imensa generosidade não terão sempre uma razão quando povoam territórios de forma insistente e alarmante para o ser humano que desde sempre vive numa guerra contra a natureza, num jogo de forças do qual quer sair sempre vitorioso?