A opção por estudar os discursos e as práticas empresariais trilhando os procedimentos administrativos de licenciamento ambiental, que conduzem às permissões de construção e operação de grandes empreendimentos industriais, possibilitou o acesso ao lugar da imaginação, em que as noções do mundo empresarial aparecem em sua forma idealizada. Um lugar, como disse Erving Goffman, no qual o ator pode abandonar a sua fachada, abster-se de representar e sair do personagem; uma região dos bastidores, em que as ilusões e impressões são abertamente construídas.
É a partir desse lugar, frequentando escritórios e salas de reuniões, acompanhando trocas de e-mails, apoiando a preparação de eventos, participando de encontros privados entre empresários e membros da administração pública, enfim, posicionando-se onde só é possível circular portando um crachá, que Deborah Bronz descreve a ação empresarial dentro e fora dos eventos formais do licenciamento ambiental.
Reunindo de maneira sagaz diversos empreendimentos reais em que atuou como consultora em dois grandes casos fictícios, a autora narra como o processo de licenciamento sai do plano das ideais racionalizadas das leis para a prática cotidiana daqueles que participam e se envolvem nesses processos, especialmente empreendedores e consultores, mas também gestores governamentais e comunidades locais.
Nos bastidores do licenciamento ambiental procura demonstrar alguns dos efeitos sociais da montagem da cena participativa do licenciamento, observando que tipo de participação esses eventos autorizam nos ambientes controlados em que ocorrem. O uso naturalizado da palavra "negociação" nesses contextos pode, inclusive, ocultar os sentidos das práticas que recebem esse nome sob o signo de legalidade e do consentimento.
Dos bastidores à cena, por meio da etnografia de um conjunto diverso de rituais que compõem os processos político-administrativos do licenciamento ambiental, também será possível observar como esses espaços podem ser apropriados pelas populações "afetadas", contrabalançando, ainda que timidamente, os dispositivos de poder em jogo.
Ao sistematizar os saberes e as práticas que permitem o avanço dos grandes empreendimentos industriais que têm intensos efeitos sociais, Deborah Bronz apresenta-nos um panorama abrangente do cenário desenvolvimentista contemporâneo. Com sua narrativa original que transcende aos casos específicos, esta etnografia fornece uma importante contribuição ao desenvolvimento de práticas de pesquisas antropológicas em estudos sobre práticas de poder.